Família Cesário da Silveira

FAMILIA CESÁRIO DA SILVEIRA

Antonio Cesário da Silveira, mais conhecido como Tonico Cesário, nasceu em Bom Sucesso, MG em 1883. Aos 12 anos, em 1895, migrou com seus pais e irmãos para Guaranésia. A viagem em carros de bois durou dias, parava para lavar roupas, dormir, cozinhar, dar comida aos animais. Acampavam as  margens de rios. Era uma grande caravana: família, parentes e agregados. Trouxeram também criações como porcos, galinhas, cavalos, bois… uma verdadeira epopéia.

A família de Tonico Cesário era composta por oito pessoas: seus pais, José Cesário da Silveira e Guilhermina Maria de Jesus, suas irmãs, Ana, Francisca, Messias, Maria, Tonico e Salatiel, falecido aos 14 anos.

Em Guaranésia, moraram uns tempos no Varjão, depois José Cesário comprou terras na

Graminha, que hoje pertencem à Fazenda Pouso Alegre e o Sitio da família de José Cesário Neto.

Por volta de 1920, os pais de Tonico Cesário morreram, suas irmãs já casadas venderam suas partes na herança e foram embora. Tonico ficou com a parte que herdara, comprou mais terras, ampliou a propriedade,prosperou, tornou- se um sitiante forte.

Em 1913 na festa de casamento de sua irmã Messias, Tonico conheceu a jovem Maria Ferreira Dias, prima do noivo. Maria nasceu em Mococa, mas foi criada em Tapiratiba, SP. Em 17 de fevereiro de 1914, eles casaram em Tapiratiba, ela com 17 anos , ele com 31- juntos, trabalharam e prosperaram. Maria e Tonico tiveram seis filhos, Alzira falecida aos dois anos, Alice, Benedito, Antonia ( Tuti ), João Vitor (Jovito ) e  José Cesário (Zé Cesário ).

Homem afável, carismático, extremamente simpático- contador de casos- bom de papo. Tanto que seus animais de sela, já habituados aos pontos de seu dono, sabiam, na cidade, onde parar para que Tonico desse dois dedos de prosa. Muito religioso, não ia à missa, nem frequentava a igreja, mas tinha as suas devoções aos Santos  Reis, à Nossa Senhora Aparecida e a Santo Antônio e paras as festas deste santo e de Santa Bárbara, separava todos os anos dois garrotes.

Todos os anos rezava-se em seu sítio o Terço de Santo Antonio no dia 12 de junho. Os preparaivos já eram uma festa. Uma semana fazendo quitandas, preparando para o Terço arcos de bambus, enfeites de bandeira… a criançada adorava! Dentre os muitos rezadores de terço que passaram por lá havia o Chico Adriano, morador da fazenda Santo Antonio e o Vicente Teodoro, morador da fazendo do Joaninho Citon.

Sitio ou fazenda? Eram cinqüenta alqueires de terra, mas Tonico Cesário era modesto, não contava vantagem. A família produzia leite, fabricava queijos – o melhor da região!

Todos elogiavam os queijos de D.Maria…

A Família Cesário da Silveira deu uma grande contribuição para o progresso de Guaranésia através dos seus esforços, do seu trabalho, de ter dado oportunidade de trabalho a muita gente, como meeiros, parceiros, colonos, trabalhadores em geral, que por lá passaram.

Na década de 20, não existindo escola no Bairro da Graminha e adjacências, Tonico Cesário montou uma escola no Sitio, contratou professor para alfabetizar seus filhos e os filhos de seus vizinhos.

Caridosos, Tonico e Maria acolhiam a todos. Pedintes, andarilhos, hansenianos que perambulavam palas estradas, tinham ali seu prato de comida e um cantinho para passarem a noite.

O sitio ficava aproximadamente, quatro km da fronteira com o Estado de São Paulo,Os boiadeiros com destino a São José do Rio  Pardo e Tambaú, pernoitavam e jantavam na casa dos Cesário…era um grande movimento: mascates que por ali passavam, não ia embora sem comer o delicioso franguinho preparado per Dona Maria.

Hospitaleiros, os Cesário sempre tinham visita para almoço ou jantar. Todos que por ali passavam adoravam o franguinho refogado de Dona Maria. O frango preparado apenas com cheiro-verde e pimenta era uma delicia!

Um fato histórico marcante quebrou a rotina da família  Cesário e de seu vizinhos: a Revolução Constitucionalista de 1932. A Fazenda dos Cesário fez parte do cenário do combate entre as tropas mineiras e paulistas, no Município de Guaranésia.

As tropas mineiras ficaram entrincheiradas na encruzilhada em frente à porteira de entrada da fazenda, em terras que hoje pertencem à Fazenda Pouso Alegre, e as  tropas paulistas estavam do outro lado do rio, na fazenda Boa Vista, do Major Quintino. Houve o confronto. Uma noite inteira de tiroteio, o povo com medo se escondendo, fugindo…

Alice Cesário Dias, tinha 15 anos na época e conta:

Depois do tiroteio fez silêncio total, de manhã cedinho apareceu o Tenente requisitando alimentos urgentes para a  tropa faminta. Os soldados não jantaram, a comida do dia anterior tinha azedado. Minha mãe correu e  juntou  todos os ovos que tinha e mais uma ninhada posta para chocar no dia anterior e foi  para o tacho para preparar o virado de queijo e ovos. Enquanto isso, eu eo meu pai, fomos tirar leite e encher os latões, minha mãe fazia  café e despejava nos latões de leite. O Tenente ia enchendo as marmitas de virado e se deliciando. Ele dizia “comendo este virado, os soldados fazem fogo a noite inteira”.

Mas os paulistas bateram em retirada. Quando as tropas mineiras perceberam, invadiram a Sede da Fazenda Boa Vista, abriram as portas, abriram o Armazém da Fazenda e o povo saqueou. No dia seguinte,  passava gente na estrada usando as roupas finas da família do Major José Quintino.

Na época, a família fabricava farinha de milho, daí, ter tanta farinha para tanto virado que alimentou as tropas mineiras naquela frente de combate.

Além de fornecer alimentos, os Cesário lavaram roupas e cobertores molhados dos soldados, sujos de barro, pois chovia naqueles dias.

Tonico Cesário era homem confiável. Para ele a palavra dada valia mais que qualquer papel assinado, deixou aos filhos  o exemplo de retidão e de caráter.

Faleceu em 10 de fevereiro de 1958,  em sua fazenda, cercado pela família, aos 75 anos.

Maria faleceu em 03 de agosto de 1980 aos 84 anos. Ambos estão sepultados no Cemitério de Guaranésia.

A fazenda foi dividida entre os filhos, porém somente José Cesário manteve a sua parte. Trabalhou em seu sítio até a sua morte em 29 de janeiro de 2005. Sua viúva,  Célia Nogueira Silveira e seus filhos continuam lá.

Yvany Dias Vila, neta de Tonico Cesário, filha de Alice Cesário Dias, testemunha viva da Revolução de 1932- Alice está com 92 anos, lúcida  e conta os fatos.

Antonio Cesário e Maria Ferreira

Fazenda da Família Cesário da Silveira

Sede da Fazenda

Benedito, Alice e Antonia (Tuti)

João Vitor Cesário

José Cesário

José Cesário (Zé Cesário)